Sessões

12 de abril de 2010

Qual a parte que me cabe neste latifúndio?



Terça-feira passada, 7 da manhã.
Acordo com minha família me ligando para avisar
que o Rio de Janeiro estava debaixo d’água.
Fiquei imensamente frustrada,
porque deixei dezenas de pessoas esperando
– precisava trabalhar pelo dinheiro e por elas.
Liguei a TV e fui tendo a dimensão exata do problema,
assistindo apocalípticos alagamentos
e escandalosos deslizamentos,
revelando a total falta de infra-estrutura,
planejamento urbano e respeito à vida em nosso país.
Uma tragédia e, sobretudo, uma vergonha.
Governantes fazendo de conta
que não sabiam da existência dos lixões,
agindo como se fosse uma grande surpresa
que famílias inteiras vivem
em barracos prestes à despencar.
Vendo o desespero daquela gente procurando suas famílias nos escombros, olhei para meu filho jogando no computador
e senti-me verdadeiramente privilegiada.

Em meio a tanta chuva, na rua onde moro,
uma menina de 14 anos chorava,
encharcada, com frio e fome.
Eu tinha acabado de tomar meu café da manhã
e estava quentinha,
devidamente agasalhada em meu edredom.

Lembrei-me de uma pessoa que trabalhou aqui em casa
(e agora já é parte da família)me contado emocionada
que tinha se mudado para uma casa
que tinha água encanada e tudo!
Eu, que nunca suspeitei o quanto era feliz
por não precisar tirar água suja de poço
para beber e cozinhar!
Ai, que bom ainda existir água!

Danei a pensar sobre nossa passividade diante da dor do outro
, nosso egoísmo estampado em nossas escolhas,
nossa ingratidão e desvalorização do que já conquistamos,
querendo sempre ter mais e mais,
consumindo desenfreadamente,
certos de que essa é a chave da felicidade.

Nós humanos, tão indefesos e ameaçadores!!!

Mas acredito que ainda há salvação:
Já são mais de 120 toneladas de mantimentos doados,
voluntários ajudando como podem,
bombeiros fazendo o impossível em meio ao caos,
religiosos orando em templos pelas vítimas da tragédia,
pessoas que perderam tudo ajudando outras pessoas
a reconstruírem o que sobrou de suas vidas...

“Fora da caridade não há salvação”.
Sem responsabilidade também não.

Então não esperemos a próxima tragédia!
Todos os dias podemos produzir menos lixo,
racionar o consumo de água,
ajudar a quem tem fome,
respeitar as diferenças,
despir-nos de nossa ignorante superioridade
diante dos que tem menos,
acolher alguém que sofre,
escolher em quem votamos...
enfim, repensar nossa atuação neste mundo.

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